LIVROS

Leitura para a alma

Universidade do Espírito

Lições práticas para o autoconhecimento, iluminação e aprendizagem das Leis Cósmicas.

PECADO

"A Todos os que Não Condenam o Verbo, mas têm Esperança Nele - Aos incensários fumegantes com doce incenso, balançando nos tabernáculos do deserto dos filhos de Israel, juntava-se frequentemente no vento o odor das ofertas queimadas em sacrifício. Eram sacrifícios oferecidos para apaziguar um Deus supostamente irado, a fim de expiar os muitos pecados dos filhos de Israel cometidos durante as suas caminhadas pelo deserto. (1)

O desejo de apaziguar a Deus, de se libertarem dos sentimentos de culpa e da opressão que os acompanha e a ideia de que o perdão é possível ocupam a mente de milhões de filhos de Deus até hoje. É, portanto, compreensível o contraste entre o doce incenso simbolizando a oração, o amor e a adoração, e a ideia de algo repelente como sacrifícios de animais ou seres humanos.

Sob a orientação do Conselho de Darjeeling da Grande Fraternidade Branca, o amado Jesus e eu estamos presentemente a divulgar esta série de lições a fim de criar um clima de maior compreensão sobre o que é, sobre o que o pecado não é, e sobre as medidas defensivas eficazes que podem ser tomadas para neutralizar os seus efeitos por meio da remoção da sua causa e núcleo. O envolvimento da consciência com o pecado, as elevadas esperanças que Deus alimenta para os Seus descendentes e um esclarecimento geral sobre todo este assunto serão condensados nas nossas lições da Universidade do Espírito, que vos enviamos com todo o nosso amor.

Isto deverá mostrar-se altamente benéfico para aqueles que assimilam cuidadosamente as nossas instruções, pois estamos decididos a inserir nelas um auxílio altamente necessário para todos os discípulos que pretendem ensinar a Verdade ao coração infantil. Estamos, no entanto, bem cientes do facto de que alguns dos nossos novos estudantes continuam a manter preconceitos ou uma certa intolerância religiosa. Encorajamos estes últimos a que mantenham esses velhos momentums de pensamento e sentimento sob controle até ao fim do curso, para impedir qualquer interferência negativa que venha a bloquear o fluxo das nossas ideias divinas para o seu mundo pessoal.

Para alguns isto não será difícil, mas para outros, que podem sentir um falso sentimento de lealdade para com uma ou outra doutrina ou para com o seu proponente (como também me ocorreu ocasionalmente antes da minha ascensão, quando me identificava com diversas fés religiosas), será talvez necessário um maior refreamento para se dedicarem à compreensão de que a sua proximidade com Deus constituirá a melhor e mais evidente prova do nosso ensinamento.

Abençoados, em relação a assuntos como as crenças e as fés religiosas, lembrai-vos de que, muito antes de chegardes à vossa compreensão atual nesta vida, os vossos conceitos passaram muitas vezes por mudanças - e é sempre possível que tornem a fazê-lo no decurso da viagem que conduz ao círculo da compreensão dos chamados mistérios da Vida.

Estes assuntos podem parecer perfeitamente definidos para quem está baseado num determinado ensinamento; mas, para uma pessoa poder libertar-se de todo e qualquer erro inerente a um sistema humano, o preço que tem de estar disposta a pagar é simplesmente o de manter abertos a mente e o coração. Fazei por isso uma pausa, para considerar novas ideias e para examinar de novo ideias antigas à luz resplandecente do conhecimento divino que vos vai ser dado.

No mundo da ciência, o verdadeiro cientista tem de estar disposto a manter abertos os canais da recetividade e a reavaliar constantemente teorias há muito estabelecidas sobre o universo material. Pela intensidade do seu desejo de examinar novas provas, mesmo que venham invalidar as suas conclusões anteriores, ele torna-se um canal seguro para o progresso de todos os homens.

Os valores e princípios espirituais têm também de resistir ao teste supremo da validade e da demonstrabilidade no tempo e na eternidade. Deveis compreender, no entanto, que os conceitos das pessoas sobre a aplicação das verdades eternas podem ser acertados ou incorretos. Assim, admitindo que errar é humano, o servo ministrante precisa examinar o seu próprio progresso espiritual, correspondente aos novos pensamentos que fluem da oitava celeste onde eu estou - para que possais estar lá também. (2)

Os estudantes sinceros da literatura cristã se lembrarão possivelmente da cena bíblica em que o amado Jesus se abaixou e escreveu cuidadosamente na areia as palavras que libertaram a mulher supostamente pecadora do escárnio daqueles que pretendiam executá-la. A sua afirmação "Aquele que de entre vós está sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra" (3) é uma clássica recordação da `humanidade´ do pecado, e apoia firmemente as observações que São Paulo faria mais tarde ao declarar "Não há um justo, nem um sequer". (4) A afirmação de David nos Salmos, "Em pecado me concebeu minha mãe", (5) refere-se também à ideia de que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". (6)

Pois bem, almas abençoadas, o amado Jesus declarou frequentemente quando ainda estava fisicamente encarnado que o Filho do homem veio ao mundo, não para condenar o mundo, mas sim para que por meio d'Ele o mundo pudesse encontrar o caminho para a Vida eterna. (7) É razoável supormos que, seja qual for o pecado, todo o homem ou foi culpado por ele, ou se submeteu a ele numa ou noutra ocasião.

É correto - e digo mesmo, muito mais correto - concluir que Deus como Espírito, como Lei e como a manifestação da glória Shekinah (8) , não está minimamente interessado em condenar os que evoluem na Terra ou em isolar indivíduos devido ao seu estado de pecado presente ou passado. Ele está, si, sumamente interessado em libertá-los da ignorância do pecado (e da pecaminosa ignorância) e dos ardis do Tentador.

Geralmente, quando as pessoas ponderam sobre as doutrinas do pecado formuladas pelos homens, elas fazem um dos dois seguintes erros: ou arranjam desculpas para si mesmas enquanto condenam os seus irmãos pelo mesmo erro, ou então criam a imagem de um Deus irado feito à sua própria semelhança, alimentada pelos seus próprios sentimentos de culpa e pela consequente necessidade de punição ou expiação.

A mente carnal fica satisfeita com a contemplação desta falsa imagem de Deus só porque ela reforça a sua própria imagem sintética e visão do mundo, e permite-lhe odiar, matar e mutilar em nome do seu Deus. A alma, porém, sabendo que, na realidade, o Pai é absoluta sabedoria e absoluto amor, atua de acordo com Ele quando está livre da programação (condenação) da mente serpentina.

É verdade que antes do nascimento do amado Jesus, grande parte da retribuição cármica retratada nas escrituras do Antigo Testamento tendia a apoiar a ideia de um Deus irado (a dureza da Lei não temperada pela graça do Mediador Divino); e a influência da dispensação antiga sobre a nova, devido às raízes do cristianismo na tradição judaica, tem em certas áreas afetado o pensamento cristão até ao presente.

Se os olhos dos homens fossem abertos para que percebessem como é imensa a dor mundial que lhes é devolvida diariamente (pela lei do carma) para que a redimam, se pudessem ver que essa dor e sofrimento que a acompanha são causados pelos seus erróneos conceitos sobre o pecado e a condenação, compreenderiam como é urgente que derramemos luz sobre toda a concentração do pensamento escura e infeliz sobre este assunto.

O ensino sincero e a explicação correta ministrada pelos detentores do cargo de Instrutores Mundiais tiram dos conceitos erróneos o aguilhão e a força do erro. A ortodoxia de muitos estudiosos da religião (muitos dos quais homens sinceros) poderá vir a ser pisoteada nesta dissertação, mas na 'torre de marfim' espiritual da minha própria ascensão, não temo a censura humana.

Assim, estou decidido - com um fervor além da habitual gentileza que me é imputada por muitos dos chelas - a alertar quem é ativo e recetivo para estas investigações cuidadosas sobre a Verdade dos Mestres Ascensos que conduzem à terra prometida da liberdade. Ali, o leite e mel do pensamento espiritualmente adoçado tornam-se a compreensão que gera maior harmonia com Deus, paz interior no indivíduo e o poder de promover a boa vontade entre os benditos povos da Terra por quem temos profundo amor em nome de Deus, EU SOU.

Escolhemos, assim, a afirmação bíblica "o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei" (9) para a esclarecermos. A ideia de que "a força do pecado é a lei" é uma ideia-chave, e contém a compreensão que o amado Hilarion descreveu, na sua grande sabedoria, quando era São Paulo.

Sobre certa perspectiva, a lei a que ele se referiu é a lei da mortalidade, criada pelo homem - e fortalecida pela lei do carma. A morte só tem o seu aguilhão quando o indivíduo mantém a sua mortalidade ao falhar em libertar-se do registo do pecado. Ele é obrigado a fazê-lo pelo resgate do seu carma, pelas boas obras e pelo uso da chama violeta por meio de decretos dinâmicos (10).

A força relativa do pecado está sujeita à lei da transmutação pela qual, por meio do arrependimento e da remissão dos pecados, o indivíduo pode transmutar pelo fogo sagrado a causa, efeito, registo e lembrança de todo o erro e, assim, deixar de estar sujeito ao peso cármico de atos do passado. O pecado perde todo o poder sobre o indivíduo quando este o sujeita, e a si mesmo, completa e decisivamente à Lei do Amor.

Como sabeis, amados, parece haver tantos motivos quantas pessoas; no entanto, isso não é verdade. Sim, porque a lista de motivos humanos esgota-se sem demora, e rapidamente nos apercebemos de que, excetuando subtis nuances na sua variedade, os motivos humanos são assaz básicos. Além disso, vemos que as atitudes e motivações humanas nascem na sua maioria de uma incompreensão, ou também de uma compreensão, das leis de Deus.

Quando consideram a necessidade de se despojarem dos seus chamados pecados, os homens são frequentemente dominados por sentimentos excessivos de desânimo. Isto, por sua vez, gera o sentimento de não serem capazes de viver à altura do elevado padrão da Lei. Aquilo que vivenciam como sendo a 'rigidez' da Lei parece favorecer a continuação do chamado pecado e do caminho da carne, já que a meta da vida sem pecado se lhes afigura praticamente impossível de realizar. Assim, é por vezes a não compreensão da Lei abençoada e da sua aparente inflexibilidade que, na realidade, encoraja e fortalece tanto o sentimento de pecado como a ação pecaminosa.

Nós, os membros da Grande Fraternidade Branca, não desejamos de forma alguma ver as trevas ampliadas por uma falsa doutrina ou falso ensinamento, e nada pretendemos senão ajudar cada alma a reencontrar o seu caminho de regresso ao Lar. Benditas almas, são os resultados que contam - tanto em assuntos espirituais como materiais e assim, com o espírito prático de Deus, devemos fazer-vos notar que a bendita Lei não é, na realidade, fraca nem rígida: ela é, sim, a afirmação da pureza da Verdade eterna. É a codificação de valores e padrões imortais que, pela própria natureza, não podem ser deturpados por princípios inferiores - os quais parecem por vezes, por contraste, quase malignos.

Na verdade, a Lei é a maior segurança no universo, protegendo o justo e ordenando ao injusto que abandone a pecaminosa irrealidade dos seus caminhos e se eleve. Ao mesmo tempo em que proporciona a todos a ampla oportunidade de misericordiosamente expulsarem o pecado e a lei do pecado dos seus mundos, a Grande Lei promete também absoluta e divina justiça àqueles que fazem o mal (11) e nele insistem, blasfemando contra Cristo e contra o seu Chamado.

Libertar-vos de todo o auto engano é a nossa meta nestas Lições da Universidade do Espírito. Em relação ao que anteriormente foi dito, a vossa libertação do pecado e do sentimento de serdes pecadores deverá libertar a vossa alma de uma apreensão opressiva sobre os obstáculos da Lei - e daquilo que tem parecido ser uma incapacidade vossa de vencer esses obstáculos.

Compreendei, assim, que há valores eternos e valores temporais. Certamente que Deus, sendo totalmente perfeito, não poderia permitir que a Sua Lei permanente sustentasse um padrão inferior ao da absoluta perfeição. A vida na terra revela inúmeros exemplos da misericórdia de Deus, diariamente concedida com a infinita paciência que Ele estende a toda a Sua criação.

Nenhum homem deverá concluir erroneamente que Deus está zangado com ele ou com qualquer parte da Vida. Nem tampouco deverá concluir insensatamente que, pelo facto de Ele não estar zangado, os Senhores do Carma - que seguem as perfeitas sugestões do Pai de todos - deixarão passar atos deliberados ou levianos de maldade cometidos contra outra parte da Vida.

Sim, porque a justiça declara: "Com a medida com que tiverdes medido, vos hão-de medir" (12). Esta é a uma lei operacional, e diz respeito à conduta dos homens na sua interação mútua. No entanto, na sua relação com a Poderosa Presença do EU SOU e com a eterna Lei da Perfeição, existe sempre a mão orientadora do Pai paciente (estendida por meio do Filho) que, sem condenação, adora ver os Seus filhos conhecerem a Verdade que os liberta.

Não mais permiti que as altas barreiras da Lei ou as vossas limitações temporárias vos impeçam de demonstrar a Lei. Dai mais do que recebeis e procurai sempre, por nobreza de espírito, engrandecer o vosso poder divino de praticar a justiça - a utilização correta (em vez do abuso) da Lei entre todos os filhos da Luz.

Sabei que cada pequena força que reunis em vós expande a vitória da vossa alma, aumentando de forma palpável a Luz que vos ilumina, abençoa e cura. Cada ato que fortifica e honra a Lei fortalece a manifestação da grande Lei causal do Amor que move toda a criação, numa cadência medida, aos eternos tabernáculos do Espírito.

É a doçura do Amor imortal, como a fragrância do incenso subindo no ar, que não requer nem sombra de sacrifício animal ou humano, mas tão somente a realização crística, que cumpre integralmente a Lei para vós, com a Sua graça multiplicando as vossas boas palavras e boas obras.

Agradeço-vos

                   (Kuthumi Lal Singh)

Do capítulo "Pecado" do Livro "Universidade do Espírito", pp. 139-146os."